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A questão do valor sempre intrigou quem tenta entender o que dá sentido às coisas.


Será que ele existe por si só, inerente aos objetos, ou depende de quem os percebe?


Essa discussão atravessa tanto reflexões filosóficas quanto áreas práticas como o branding, onde a percepção das pessoas molda o que uma marca representa.


O que se propõe aqui é explorar como o valor surge da relação entre sujeito e objeto, e por que essa visão ajuda a compreender a construção de uma marca forte, considerando também os contra-argumentos que tentam apontar para uma essência fixa, mas que nem sempre se sustentam.


O valor como algo atribuído


O valor não está nas coisas em si ? ele é algo que uma pessoa coloca sobre elas.


Um metal precioso, por exemplo, pode ser trocado por algo simples, como um espelho, dependendo de quem o avalia.


Historicamente, povos que não viam utilidade ou significado nesse metal o entregavam sem hesitar, enquanto outros o consideravam um tesouro.


Isso mostra que o valor não é fixo; ele depende de quem olha, do contexto, das necessidades ou dos desejos de cada um.


No branding, isso é essencial: uma marca só ganha importância se as pessoas enxergarem algo especial nela, seja por meio de uma história, uma emoção ou uma promessa que ressoe com elas.


Alguns dizem que certas coisas têm valor por si mesmas, como a felicidade ou a dor.


O ponto é compreensível, mas não parece totalmente sólido. A felicidade, por exemplo, parece algo que todos deveriam querer, mas nem todo mundo a coloca no mesmo pedestal. 


Há pessoas que vivem sem buscá-la, ou que não se importam com a felicidade dos outros. 


Isso sugere que ela não é universal ? ela varia de acordo com o que cada um sente ou prioriza.


No branding, uma marca pode oferecer a ideia de alegria, mas só vai funcionar para quem já vê valor nisso.


A dor é outro caso. Muitos a consideram algo naturalmente ruim, mas nem sempre é assim. 


Há quem a transforme em prazer, em desafio ou em algo significativo, como em práticas extremas ou experiências pessoais intensas.


Se a dor fosse intrinsecamente negativa, essas visões não existiriam.


No mundo das marcas, isso aparece quando algo que parece desconfortável é apresentado como positivo para um público específico ? o valor muda conforme a percepção.


Até mesmo a ideia de justiça, que alguns defendem como um valor objetivo, parece depender de quem a define.


O que é justo para uma pessoa pode não ser para outra, dependendo de suas crenças ou circunstâncias.


No branding, uma causa pode atrair quem se identifica com ela, mas deixar outros indiferentes.


Isso reforça a ideia: o valor não está gravado na pedra; ele é moldado por nós.


Branding e a relação sujeito-objeto


Na construção de uma marca, o segredo está em entender que o valor vem dessa relação entre quem percebe e o que é percebido.


Uma marca não pode achar que é valiosa só por existir ou por suas qualidades materiais.


Ela precisa descobrir o que importa para as pessoas e criar um significado que as toque.


Pode ser a sensação de pertencimento, a promessa de algo melhor ou até a valorização de um ideal ? mas tudo isso só funciona se o público abraçar essa visão.


Uma marca que ignora isso e confia apenas no que oferece, sem ouvir quem a consome, acaba perdendo força.


O valor também muda de lugar para lugar, de pessoa para pessoa.


O que é precioso em um contexto pode ser irrelevante em outro.


Uma marca bem-sucedida sabe disso e ajusta sua mensagem, encontrando formas de se conectar com diferentes formas de enxergar o mundo.


É essa flexibilidade que a torna relevante.


Reflexão final


O valor é visto aqui como algo que criamos, não como algo que simplesmente existe.


Os argumentos sobre valores intrínsecos ? felicidade, dor, justiça ? são interessantes, mas não convencem plenamente, porque sempre há exceções que mostram como tudo depende de quem avalia.


No branding, isso é ainda mais claro: uma marca vive ou morre pela capacidade de fazer as pessoas atribuírem valor a ela.


A conclusão é que o valor não está nas coisas, mas na relação que se tem com elas.



Artigo escrito por Luciano Montelatto